Sábado, 14 de Julho de 2007
À volta da Cidade

À volta da Cidade

O que é afinal a cidade?

 Não sendo uma construção moderna , é antes de tudo o mais o mapa onde se pode ler , o passado dos povos, onde se vive o presente e se projecta o futuro.

A cidade, a Cidade moderna que olhamos hoje, é a  que amamos mas de onde somos expulsos, que odiamos mas à qual nos prende um amor  de que nos fala Camões.

A cidade é assim o local onde nos sentimos bem e mal onde queremos viver e simultaneamente fugir.

Mas é sobretudo um espaço construído ao longo da historia dos seus povos,  é portanto no conhecimento da Cidade que podemos fazer o mapeamento dos povos que ao longo do tempo dela se foram apropriando e marcando indelevelmente. Acidade é assim diversificada,  tanto nas construções como na Cultura.

Vamos então falar um pouco da nossa maior Cidade, Lisboa.

De Lisboa falam-nos os diversos estudiosos, dizem-nos que deve ser analisada a partir da multidisciplinaridade, Historiadores, sociólogos, Arquitectos, antropólogos, Economistas e Geógrafos.

Todos eles nos falam da cidade com o seu ponto de vista que sem duvida é de uma Importância fundamental para que possamos conhecer o passado o presente e projectar o futuro.

Lisboa foi de facto o palco de toda a nossa grandiosidade, mostra permanente das nossas elites, mas também o drama dos que viram os seus partir em busca de novas luzes.  

Lisboa foi ao longo dos tempos o ponto de chegada de povos de todas as partes da Europa mas também de Africa e finalmente, Cidade de onde se começou a projectar um Pais em si diverso na cultura .

Foi a partir desta cidade que partiram um busca de mundos desconhecidos os Homens de Portugal , foi daqui que partimos para  colonizar paisagens longínquas e transmitir ao mundo esta Cultura única que é nossa . O Humanismo Português.

Foi daqui que partiram também para á liberdade homens e mulheres perseguidos pela diferença de raça ou de religião durante o Sec XX .

Foi também daqui que partimos para uma guerra colonial, mantida por um governo autoritário que nos amesquinhou durante uma grande parte do Século , mas foi também aqui que teve lugar a Única Revolução Sem derramamento de sangue.

E que foi percursora para uma nova modernidade da Europa e do Mundo.  

Podíamos pois começar a falar da Cidade a partir  do ponto de vista histórico da sua riqueza monumental , das suas construções medievais e dos povos que a habitaram , podíamos começar a falar de Lisboa a partir dos seus bairros,  implantados nas suas sete colinas , podíamos falar da Lisboa Romana , da Lisboa Visigótica , Arabe ou da Lisboa Renascentista .

Mas sem pretender de modo nenhum escamotear a importância que todos esses momentos tiveram na forma como a cidade nos foi dada para viver .Pretendo falar da Cidade moderna da Cidade que vivênciamos no presente.

Não pretendendo este meu texto ser Cientifico , parece-me , que a Cidade se descaracterizou e perdeu uma parte da sua identidade.

Expulsou para fora de si os seus habitantes de sempre, restaram os mais velhos aos quais se misturaram povos diversos que vivem em Habitações com poucas condições de Habitabilidade ,e das quais fogem os antigos moradores , restam assim nos bairros antigos os resistentes e alguns intelectuais que conseguiram uma habitação com vista para o Tejo, o Rio que faz Lisboa ser a tal cidade de sentimentos contraditórios .

Os Habitantes da Velha Lisboa são pois resistentes e por isso pela sua força a sua Cultura, a cultura bairrista Ainda se não dissipou totalmente.

Porém nota-se um mal estar que começa a ser preocupante.

Á medida que a cidade perde os seus habitantes, as ruas ficam vazias as praças perdem vida e o medo apodera-se dos que pretendem viver a cidade.

 A verdade é que a cidade luz, mergulhou na escuridão e a partir de certas horas da noite, foi simplesmente ocupada pela marginalidade.

Em termos arquitectónicos Continua a descaracterização de avenidas inteiras, e surgem por todo o lado as construções modernas ladeando e substituído as construções que contem a Historia da Cidade.

O automóvel ocupa a cidade que já se não vive  mas que apenas se usa .

A cidade é hoje local  onde se entra para trabalhar nos escritórios ,  centros comerciais , Bancos ,seguros e outros serviços.

Chega-se cansado depois de horas nas longas filas de transito e sai-se apressado para as mesmas longas bichas que nos esperam parra regressar a casa, que se situam em novas cidades metropolitanas construídas sem plano , sem desenho e sem humanidade.

E a cidade, fica  abandonada a si mesmo e, aos que resistem teimosamente em mater esta velha Cidade onde o fado ladeia com as modernas discotecas, onde velhos bares são ocupados pela juventude às sextas à noite, enquanto esperam que as novas discotecas abram.

Mas a cidade o resto da cidade são os estrangeiros que nos visitam, e que fazem mexer a noite de Lisboa no verão.

È pois imperioso inverter este passo , e dar vida às nossas praças principais .

O Rossio, a praça da figueira, o Martim Moniz ,a praça do Comercio e tantos outros locais que hoje não Ocupamos , precisam de ser dinamizados , através de actividades culturais com e para o verdadeiro povo da cidade, este deve ser o próprio criador, deixem pois ao povo o que é do povo.

Para tal é apenas preciso que as ideias que surjam, as boas ideias sejam apoiadas pelas entidades que representam o estado na área da Cultura.

Apoiar as boas iniciativas individuais que não sendo lucrativas podem dinamizar de forma única, esta nossa cidade que tem que continuar a ser, o pólo dinamizador da cultura humanista deste povo.

Numa segunda fase será necessário retirar o automóvel da cidade e dá-la aos peões e, a meios de transporte não poluentes e simultaneamente parar com as construções modernas ,e tornar habitáveis  as antigas sem as desconfigurar.   Dando-lhe verdadeiras condições de habitabilidade e a preços acessíveis ás pessoas que as habitam actualmente. Isto é sem mudar o tipo de pessoas que desde sempre habitaram estes bairros.

Não quero de forma nenhuma parar o tempo. Na realidade  deve-se deixar a cidade respirar por si. Permitindo as mudanças culturais que são próprias de todas as épocas e que tornam possível a evolução dos povos em construção de novas identidades .

 

  

 

 

publicado por sociolocaminhar às 02:28
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De Lua de Sol a 14 de Julho de 2007 às 04:45
Ora, ora... Não sei por onde começar...
Sou alfacinha de gema e até agora cá me tenho aguentado firme. Do círculo de amigos - do bairro - metade consegue residir na capital. Porém, deparámo-nos com outro problema que não mencionou... Digamos que pertencíamos a um bairro Sr. Bairro e que cada vez é mais Sr. Bairro e que, portanto, os resistentes (nós) conseguiram ficar na capital mas não no Sr. Bairro, perto das famílias, porque o Sr. Bairro é fogo e a grande maioria escolheu bairros mais periféricos. Eu estou no bairro ao lado - grande feito -, porque optei por uma casa bem antiga e não demasiado grande. Mas, agora que a família cresceu a um ritmo alucinante (em 5 anos passámos de 2 para 5!), até me dói pensar que serei obrigada a mudar de casa... para onde ir? Preciso de uma barraca com dimensões razoáveis... Será que é desta que vou parar à periferia ou ainda conseguirei ficar às portas? Com algum achado...
A cidade continua bela - para mim será sempre - mas está podre, cai aos bocados. Ainda tem muito bairrismo, porque esse é feito pelos cidadãos mais idosos e esses são a maioria, mas está a ficar em ruínas e elitista.
Os jovens quase não conseguem cá viver e os que conseguem são maioritariamente filhos de ricos ou jovens que como eu optaram por um espaço reduzido, escadas em vez de elevador a pagar o mesmo preço que pagaria por uma boa casa com lareira no Cacém, por exemplo. Entristece-me, porque, no fundo, sei que podia ter uma casa bem melhor desde que me afastasse uns quilómetros, mas esses custam-me demais à alma e ao comodismo. A autarquia apoderou-se de diversos prédios em péssimo estado mas também não lhes faz nada e quando faz é para servirem de instalações a qualquer treta!
O problema da habitação é o mais grave, quanto a mim, porque influencia todos os outros.
Fala-se muito em "fazer obra; deixar obra" - como o túnel do Marquês, por exemplo, criar espaços culturais - que os que criam também são elitistas -... Não seria mais inteligente guardar esse dinheiro para aplicar numa solução estruturada para a habitação? Mais uns anos e Lisboa deixa de ser a capital, mais vale levar o Parlamento às costas para Mem Martins!
Uma coisa tira-me completamente do sério; porque votamos?! Na realidade, quem chega sempre ao poder não tem reais competências, não sabe o que fazer, não quer fazer, não se mexe e quando mexe geralmente piora...
De sociolocaminhar a 15 de Julho de 2007 às 00:54
Em Jeito de resposta deixo aqui em pequeno trecho de José Manuel Fernandes que, achei pertinente.

Lisboa necessita de quem por ela se sacrifique em nome de uma missão - pôr ordem em casa devastada e armadilhada - sem a qual não se pode construir uma visão - a de devolver Lisboa ao seu estatuto de grandeza.
Lisboa necessita de quem tenha lido o arquitecto Keil do Amaral e percebido como uma cidade sem grandes monumentos é uma cidade monumental. Tal como necessita de alguém que ouça o mais avisado conselho sobre a gestão da capital, um conselho que ouvi formular, há mais de 25 anos, a Nuno Portas, porventura o mais respeitado dos nossos urbanistas: a capital não precisa de grandes obras, antes de infindáveis retoques que lhe permitam cerzir uma malha urbana violentada, rasgada e atormentada.
Túneis? Casinos? Palácios de congressos? Ambiciosos museus? Mais parques de estacionamento? Mais habitação social? Festas vistosas e muito fogo-de-artifício? Seria bom, seria mesmo um enorme sinal de maturidade que os lisboetas escorraçassem quem lhes vier com tais conversas. Ou quem entrar em campanha como quem entra num ajuste de contas, numa competição para saber quem mais hipotecou o futuro de Lisboa.
Peçam antes uma cidade com menos burocratas, uma câmara com menos funcionários, uma edilidade com menos empresas de gestão não transparente. Peçam antes quem saiba dizer "não" aos que fazem de Lisboa o seu feudo para a especulação, aos que vivem das mordomias e sinecuras municipais, aos que complicam o que devia ser fácil para justificar o seu emprego e o seu pequeno poder de burocrata.
Se a cidade necessita de ser recomposta, "cerzida", e dispensa obras grandiosas, todas as estruturas e processos municipais têm de ser questionados, revistos e reduzidos ao que é a sua missão: servir bem, depressa e com equidade os cidadãos.
Para os lisboetas ainda não chegou a hora de verterem o seu sangue, o seu suor e as suas lágrimas - mas para os lisboetas só devem servir os que estiveram dispostos a fazê-lo por eles. Pois se não o fizerem já, se para Lisboa vieram movidos por outras ambições, serão os lisboetas que pagarão o preço de outros equívocos. E também todos os portugueses, pois Lisboa também é deles.
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