Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2013
Para reflectir
Tal era o formidável poderio que existia naquela região, e que o deus reuniu e voltou contra o nosso país pela seguinte razão. Durante muitas gerações, enquanto a natureza do deus se manifestou suficientemente neles, obedeceram às leis e ficaram ligados ao princípio divino com o qual estavam aparentados. Só tinham pensamentos verdadeiros e grades em tudo, e comportavam-se com doçura e sabedoria perante todos os acasos da vida e nas suas relações mútuas. Assim, só prestando atenção à virtude, faziam pouco caso dos seus bens e suportavam facilmente o fardo constituído pelo seu ouro e por outras posses. Não se inebriavam com os prazeres da riqueza e, sempre senhores de si mesmos, não se afastavam do seu dever. Temperantes como eram, viam claramente que todos estes bens também cresciam pela afeição mútua unida à virtude; e que, quando os homens se agarram a eles e os honram, eles perecem e a virtude perece com eles. Enquanto pensaram assim e conservavam a sua natureza divina, viram crescer todos os bens de que falei. Mas, quando a porção divina que estava neles se alterou pela freqüente mistura com um elemento mortal considerável, e o carácter humano predominou, incapazes desde então de suportarem a prosperidade, comportaram-se indecentemente; e aos que sabiam ver pareceram feios porque perdiam os mais belos dos seus bens mais preciosos, enquanto os que não sabem discernir o que é a vida feliz os achavam perfeitamente belos e felizes, embora eles estivessem contaminados por injustiças, cobiças e pelo orgulho de dominar. (PLATÃO, 1969:325)